quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mallu e Camelo lançam Banda do Mar

Uma dupla era quase inevitável, mas um trio pegou todo o mundo de surpresa. Reunidos em estúdio durante os últimos cinco meses, Marcelo Camelo, 36, e Mallu Magalhães, 22, juntaram-se ao músico português Fred Ferreira, 33, para criar a Banda do Mar.
O grupo disponibilizou seu primeiro disco no iTunes na última semana e já vendeu cerca de 1.100 cópias digitais. Foi a pré-venda da Sony Music mais bem-sucedida do ano, com 77 mil downloads do single gratuito, segundo a gravadora.
O anúncio havia sido feito no dia 6 de maio, por meio de uma rede social da cantora: "Hoje posso contar o que tenho guardado com euforia. Eu, Fred Ferreira e Marcelo Camelo nos juntamos e fizemos a Banda do Mar. O álbum de nossas composições sai no segundo semestre, seguido da turnê. Agora preciso aguentar até lá!!!".
Junto há seis anos, o casal já flertava com uma união artística desde o disco "Pitanga" (2011), mais recente trabalho de Mallu, que foi produzido por Camelo.
Há um ano, eles trocaram o Rio de Janeiro por Lisboa. "Tenho antepassados portugueses, então já existia uma vontade de morar um tempo por lá, ter uma vida mais calma. E o Fred, que é meu amigo há dez anos, foi certamente um dos motivos da mudança", diz Camelo.
O trio não se lembra exatamente de quando a amizade virou banda, que quase foi batizada como "Veneno Louco" e "Olho de Baleia". Mas eles contam que quando começaram a pensar em novos trabalhos solo e nos deslocamentos para shows não gostavam da ideia de ficarem separados.
"Não inventamos a banda, é como se tivéssemos desaguado nela. Como se todos os caminhos tivessem nos guiado até aqui, como uma onda, sem grandes planejamentos", diz Camelo.
Segundo ele, o disco surgiu de uma necessidade de trabalhar no contraponto de seu último álbum "Toque Dela" (2011). "Queríamos uma linguagem menos lírica, mais simples, com uma batida de bateria que qualquer um pudesse batucar no volante."
No dia 26 de agosto o trio lançou o clipe da faixa "Mais Ninguém", no qual aparece dançando desajeitadamente junto ao dançarino Fezinho Patatyy, responsável por popularizar o "Passinho do Romano", febre no YouTube.
Mallu e Camelo revezam-se no vocal e nas composições com músicas feitas há alguns anos e faixas compostas exclusivamente para a Banda do Mar.
"Gosto do estado mental que me faz cantar coisas que vêm da parte de trás da cabeça, quando estamos meio desligados. Eu componho muito lavando louça ou rolando na parede, como fiz na faixa 'Seja Como For'. Agora estou preocupada, porque acabei de comprar uma máquina de lavar", diverte-se Mallu.
Durante a turnê, a banda contará com apoio de Marcos Gerez, da banda Hurtmold, e Gabriel Mayall, da banda Do Amor.
"O segredo sobre a banda, a vida na cidade nova e o fato de trabalharmos juntos e sermos tão amigos nos trouxe uma euforia", afirma Mallu. O estado de espírito citado pela cantora aparece no disco em melodias mais pulsantes, com roupagem mais elétrica que faz da banda um trio de pop/rock.
Segundo Ferreira, nas apresentações —que começam em Porto Alegre no dia 10 de outubro, seguidas pelo Rio, no dia 11—, as canções terão bateria acelerada, mais guitarras e pedais de distorção. "É um show para curtir de pé, dançar", diz Camelo.


CRÍTICA - ROCK

Disco pop do casal é o mais agradável do ano

No descompromissado 'Banda do Mar', trio parece querer agradar aos amigos numa rodinha de violões em casa
MESMO COM INSTRUMENTAÇÃO SOFISTICADA AQUI E ALI, O QUE FICA É A SENSAÇÃO DE ESCUTAR UM ANTIGO HIT POP
THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
O primeiro álbum da Banda do Mar pode dar a impressão de que se trata do melhor disco do ano. Pode até ser, ou não. Mas é, indiscutivelmente, o mais agradável.
As faixas se alternam em "músicas do Marcelo Camelo" e "músicas da Mallu Magalhães". Quem é mais velho pode facilmente associar isso ao "Double Fantasy" (1980), último álbum lançado por John Lennon (1940-1980), no qual ele divide as faixas com Yoko Ono.
Deixando de lado esse formato "casal", o importante é que o trio luso-brasileiro soltou um apanhado de canções pop, daquelas que grudam no ouvido e a gente sai assobiando pelo resto do dia.
A Banda do Mar acaba soando mais rock do que as iniciativas solo de Camelo e Mallu. Esta resgata em alguns momentos a pegada de blues que marcou seu primeiro álbum. O melhor exemplo é "Me Sinto Ótima", deliciosa canção "pra cima", como o título entrega.
É um hit instantâneo de Mallu, assim como "Mais Ninguém", a escolhida para ser o primeiro clipe extraído do álbum, e "Muitos Chocolates", que pode se tornar um hino para as meninas.
Falando das músicas assinadas e cantadas por Camelo, é curioso encontrar conexões com o trabalho de "4" (2005), último álbum de estúdio do Los Hermanos.
Camelo canta agora melodias parecidas com as de "4", mas este é o disco menos palatável de sua ex-banda, hermético, até chato. Mas, mesmo com elementos sonoros semelhantes, aqui tudo toma o rumo de sucesso pop.
Essas músicas que agradam logo na primeira audição exibem o grande mérito do álbum. O termo "descompromissado" pode ser usado sem medo. O trio parece estar em casa, querendo agradar aos amigos numa rodinha de violões.
Mesmo com instrumentação sofisticada aqui e ali, o que fica é a sensação de escutar um antigo e singelo hit pop fixado na memória afetiva. "Cidade Nova", de Camelo, que abre o disco, é bem isso.
"Banda do Mar" é caso cada vez mais raro de um disco que ganha o ouvinte na hora.

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